O ano de 2020 foi louco né, na verdade continua sendo pois a escrita desse texto continua sendo em 2020, mas no último mês do ano: dezembro.Curioso notar que as relações humanas e não humanas foram profundamente afetadas pela pandemia mundial do COVID-19, porém existem outras pandemias monstruosas que voltaram a mostrar sua cara, sua força e intenção de derrubar quem é diferente: racismo, machismo, fascismo e neonazismo (uma nova forma e maneira de praticar o nazismo e a soberania de uma raça pura em pleno século XXI). Nesse momento que escrevo esse texto me encontro no meu local de trabalho, na Garagem Ateliê.
Dias atrás estava no nordeste do Brasil no estado de Sergipe visitando um grande irmão que esta morando lá com sua companheira e seus familiares. Foram 11 dias de descanso, de estar em outro local, se alimentando de muita cultura, conhecendo locais incríveis, sensacionais e patrimônio nosso - mesmo que a indústria do turismo e dos negócios milionários da exploração natural faça de tudo para tirar de nós. Foi incrível cada lugar que pude percorrer com meu irmão Fernandinho, com a companheira Jô e com minha companheira Patrícia Ashanti. Sim, fizemos isso tudo em plena pandemia, em pleno caos mundial e as nefastas declarações do des-presidente dessa nação que faz piada com essa situação, e mesmo assim tentamos nos desligar das coisas daqui - São Paulo - para se curar, para respirar e se alimentar do Velho Chico, pra se alimentar de escuta de nós mesmos e por escutar o mar quase todos os dias.
Algumas viagens que faço sempre ocorrem situações inusitadas ou porque tem de acontecer algo pra marcar e essa não foi diferente. Cheguei em Salvador, peguei o trem sentido a estação da rodoviária para pegar um ônibus e ir pra Aracaju - capital de Sergipe. Pensei que estava esgotada todas as possibilidades para ir até lá, eis que uma companhia de ônibus estava com um ônibus atrasado e que o mesmo eu conseguira pegar pra fazer a viagem, não demorei pra aceitar e comprei a passagem. Cansado, soado, levando duas malas - e mais uma que era eu, kkkk - fiquei andando pra cima e pra baixo até achar algum local pra comer e nem comi direito, pois é, esses são alguns perrengues, mas que valem muito a pena (faria tudo novamente sem reclamar). O ônibus esta realmente atrasado, e tive a sorte de embarcar as 21h no terminal rodoviário de Salvador, Bahia rumo a capital Aracaju, mas eu tinha que ficar atento pra não perder o local pra desembarcar.
Pois é, foi uma aventura insana e proveitosa. Cheguei as 2:20h da madrugada em Aracaju, minha irmã Jô e o Fernandinho foram me pegar na rodoviária, era pra ser surpresa minha ida até lá, mas ainda bem que fui pois estava precisando - e muito - ver esse grande irmão de uma amizade de uns 10 anos pra mais. Quando me assentei senti a brisa do mar, um vento forte batendo em minha cara, em meu corpo e limpando toda angústia, tantas coisas carregadas por mim por esse ano ter sido tão difícil e doloroso, mas que valeu a pena demais ter saído do meu local e ter ido até lá, onde o vento não fazia curva, mas se fez cura.
Dialogamos bastante sobre a vida, sobre a amizade, sobre os corres, demos muitas risadas, andamos quase todos os dias pra cima e pra baixo, do sul ao norte do estado. Conheci duas partes do Rio São Francisco, vi o rio cheio, vi as pessoas felizes e também preocupadas, mas que estavam lá, firmes, em lugares que o próprio país desconhece que exista. Foi marcante, foi emocionante e arrepiante ver tudo que vi e tudo que vivi. E se tem uma coisa bacana pra deixar como recado é: viajar é bom demais.
E no meio de tantas coisas, no último dia da minha estada por lá, tivemos uma conversa verdadeira, sincera e cheia de dicas na praia de Aracaju. Ali vi o real sentido de uma amizade, daquela que chacoalha o corpo e a mente pra dar um potencia e um recado: cuida sua mente, faça terapia, não tenha vergonha do seu eu, e assim se encontrar pra tentar ser um ser humano melhor em meio a tanta coisa. Aquele momento realmente balançou comigo, mexeu no meu mais íntimo e fico extremamente grato ao meu irmão Fernandinho e a Patrícia pela escuta e principalmente pelas dicas que foram importantes demais.
Obrigado Jô por toda força e apoio nos bastidores pra fazer isso tudo acontecer, obrigado por demais pela acolhida, pela ida a feira e ver tantos produtos da Agricultura Familiar, sem veneno e produzida com muito afeto, valeu pelas dicas, pelo role de comermos a tapioca - que delícia - e por tantas coisas compartilhadas, foi forte e bom demais.
Obrigado Patrícia Ashanti pela companhia, por ter aceitado e ter ido comigo nessa viagem. Por ter feito um corre surreal pra que tudo pudesse dar certo - e deu - pra irmos ao nordeste juntos em nossa primeira viagem, foi gostoso demais. Pelas andanças na praia, no rio, por se banhar em águas ao meu lado e toda paciência e atenção comigo. E teremos mais viagens daqui pra frente, e será tão massa quanto.
Obrigado meu irmão Fernandinho. Estava com tanta saudade de você, queria tanto de abraçar, te sentir e escutar sua voz, sua risada e dar uns roles pela cidade que você mora. Cara, foi muito importante e necessário pra nós dois essa pausa em nossos corres. Ter você como irmão na minha vida não é privilégio nem sorte, pois tinha que ser assim e assim o é. Saiba que faria tudo novamente mano, mesmo nessa pandemia que tiraram vidas de pessoas próximas a nós, mesmo correndo riscos e afins, faria tudo novamente pra te ver e estar ao seu lado, poder conversas, dar risada, chorar junto e firmar ainda mais nossa existência nesse mundo - não estamos aqui a toa, não é mesmo? Te amo demais irmão, tu não tem ideia.
As lágrimas que rolam agora, finalizando esse texto em meu rosto é de alegria e felicidade por ter vivenciado tantas coisas maravilhosas com essas pessoas e tantas outras que passarem por mim durante esses onde dias. Feliz pelas amizades novas, pelas que foram fortalecidas ainda mais e pelas que virão após essa minha ida até lá.
Só vamos. Força na caminhada, cuidado com a mente e o corpo, estar bem consigo é estar de bem com o mundo, e entendam aqui o mundo com tudo aquilo que esta ao nosso redor.
Vander Clementino Guedes
17 de dezembro de 2020.